Vamos refletir a necessidade do cultivo na vida de oração. Neste artigo já publicado aqui no blog, falamos sobre como retomar a vida de oração, um movimento importante e necessário sempre que percebemos que estamos falhando no nosso relacionamento com Deus.

Quando falamos em cultivo, logo nos remetemos ao agricultor que precisa trabalhar o solo, plantar a semente e rega-la para obter uma colheita frutuosa. Inicio esta reflexão com a citação bíblica que nos diz que Deus é o agricultor. Para obter o sucesso da colheita, o agricultor precisa saber como cultivar a terra e a semente, por mais que a primeira tenha toda a potencialidade para desenvolver-se e a terra seja boa, sem a habilidade do lavrador não haverá frutos.

“Eu sou a videira verdadeira e o meu Pai é o agricultor.” Jo 15,1

Estas palavras de Jesus expressam um dos âmbitos mais necessários à vida de oração, o cuidado.  É muito interessante notarmos como Jesus utiliza elementos característicos e típicos do dia a dia de seu povo, em diversas parábolas, discursos e ensinamentos, o mestre ensina a partir das situações cotidianas.

O Cultivo da Vida de Oração

Gosto de refletir que o agricultor é o trabalhador da primeira hora, é o que desperta nas primeiras horas do dia, na madrugada ele precisa iniciar o seu trabalho, tanto na semeadura como na colheita, as primeiras horas do dia apresentam as melhores condições, seja pelo orvalho da noite e pela temperatura, seja também pela ausência do calor escaldante do sol que ainda não despontou.

Gosto muito de rezar muito cedo pois é a oportunidade de direcionar à Deus o meu dia oferecendo todas as minhas ações, planos e metas, como que também consagrando à Ele o meu trabalho e a minha vida. Hoje por exemplo, acordei muito cedo e Deus me conduziu a essa reflexão do agricultor, sobre seu esforço necessário de levantar-se na madrugada, de cultivar a terra e de lançar a semente.

Assim precisa ser também na nossa vida espiritual, precisamos ter disciplina, perseverança, disposição e constância. O catecismo da Igreja Católica nos fala que: “Reza-se como se vive, porque se vive como se reza.” Como você tem rezado, como tem vivido? Você já parou pra pensar nisso? Esta reflexão nos leva a entender que a vida de oração representa um termômetro da nossa vida.

Para entender a necessidade desse cultivo precisamos também ter claro que vida de oração não se restringe a momentos ou tempos de oração, mas àquilo que a própria palavra em seu termo exprime: vida, um modo de viver, um conjunto de hábitos, uma existência. Se a vida denota uma existência, logo manifesta uma presença, a presença de Deus. Estar atento à essa presença exige de nós fidelidade. A fidelidade simples e objetiva ao Evangelho, fundada na consciência de que Deus está próximo. Também consiste na atenção especial da prática da presença de Deus. Pela simplicidade e pela entrega generosa de todos os nossos atos a Deus estaríamos sempre próximos a Ele, afirma Frei Lourenço, um leigo carmelita do século XVII.

Orar é sempre possível: O tempo do cristão é o de Cristo Ressuscitado, que está «conosco todos os dias» (Mt 28, 20), sejam quais forem as tempestades (Lc 8,24). O nosso tempo está na mão de Deus: “É possível, mesmo no mercado ou durante um passeio solitário, fazer oração frequente e fervorosa; sentados na vossa loja, a tratar de compras e vendas, até mesmo a cozinhar” (São João Crisóstomo).

Orar é uma necessidade vital. A demonstração do contrário não é menos convincente: se não nos deixarmos conduzir pelo Espírito Santo, recairemos na escravidão do pecado (Gl 5, 16-25). Ora, como pode o Espírito Santo ser a «nossa vida» se o nosso coração estiver longe d’Ele? (CIC 2744).

Quando olhamos para a vida de Jesus vemos o constante hábito da oração: “Mas jesus retirava-se para lugares desertos, a fim de rezar.”(Lc 6,16), “Naqueles dias, Jesus foi à montanha para rezar. E passou a noite toda em oração a Deus.” (Lc 6,12).

A noite simboliza o sossego, o silêncio e a solidão necessária ao recolhimento da alma, sem o que é difícil, senão impossível, elevar-se a Deus convenientemente. Rezando à noite, pedimos a Deus as virtudes de que precisaremos na manhã seguinte e as graças que ao longo do dia havemos de levar aos nossos irmãos. É por isso que Jesus rezava à noite, mas pregava de dia.

Conclusão

É preciso encontrar o seu tempo de oração para que ele possa reger o seu dia e as suas atividades. Você precisa criar o hábito, ter esse tempo de parar e se recolher. É preciso habilidade para desenvolver a oração em cada tempo. Como citou São João Crisóstomo, é possível sim em cada atividade dirigir a Deus o nosso pensamento e a nossa oração.

A oração supõe um diálogo. Sou casado e na minha realidade experimento tantos momentos em que não precisam palavras para comunicar os sentimentos, um olhar um gesto fala muito, também na amizade e na relação filial acontece assim, e porque não pensar que na oração também podemos comunicar-nos com Deus através do pensamento? Santa Terezinha do Menino Jesus fala: “Para mim, a oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado para o céu, é um grito de gratidão e de amor, tanto no meio da tribulação como no meio da alegria”.

Peçamos ao Espírito Santo, mestre da vida interior que nos ensine, nos inspire e nos conduza na vida de oração para que possamos estar sempre unidos à Jesus.

André Ferreira

Membro Consagrado da Comunidade Obra de Maria